Saúde
Projeto da UFPel cuida de quem vive de cuidar
Ação foca o olhar na saúde física e mental dos responsáveis por acompanhar pessoas doentes
Carlos Queiroz -
Cuidar de um familiar doente é um ato de grande nobreza. Mas por tanto dar-se, às vezes o próprio cuidador acaba tendo a saúde comprometida, a vida esquecida. Pensar nesse personagem é o objetivo do projeto de extensão da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Um Olhar Sobre o Cuidador: Quem Cuida Merece ser Cuidado. Através dele, estudantes e profissionais de cursos como Enfermagem e Terapia Ocupacional acompanham e dão assistência a quem faz da vida o zelo pelo outro.
A iniciativa ganhou vida em 2014, quando a coordenadora, professora Stefanie Griebler Oliveira, finalizava a tese de doutorado sobre o assunto. Em paralelo se juntava no curso de Enfermagem da UFPel diversos artigos sobre o assunto, mas nenhum com proposições acerca da qualidade de vida dos cuidadores. Pensou-se então em uma ação domiciliar, os ouvindo com o objetivo de estimular reflexões acerca da própria existência, tirando, pelo menos por algumas horas, o foco do familiar doente. A execução teve início em junho do mesmo ano e até agora 48 cuidadores passaram pelo projeto - 30 pelo programa Melhor em Casa e 18 pelo Programa de Internação Domiciliar (Pidi), ambos do Ministério da Saúde.
Segundo a professora, para os estudantes a iniciativa é importante para que saiam do foco do paciente e pensem em outra pessoa que está tão presente quanto na hora do tratamento. “A experiência tem sido ótima pelo vínculo. É uma troca de saberes. Temos o conhecimento técnico e eles a vivência”, comenta a acadêmica de enfermagem Francielli Lima. São realizados sempre quatro encontros com os participantes com espaço para ouvir, refletir, compreender. Uma dessas famílias assistidas é a formada por Kátia e Luiz dos Santos, casados há 38 anos - à época ela tinha 18, ele 24. Em 2010 ele descobriu ter pseudomixoma peritorial, um tipo raro de câncer que afeta a cavidade abdominal, com origem na ruptura de um tumor maligno no apêndice. Foram oito cirurgias, duas vezes na UTI e diagnósticos prevendo o pior. Desde então, ela, que antes era professora, passou a se dedicar exclusivamente ao tratamento do marido, que necessita de novos curativos três vezes por dia, além de remédios. Kátia conta que o início foi difícil, pessoa sem técnica para tais procedimentos que era antes da doença do companheiro.
Achava que não conseguiria, ficava triste e foi aí que o projeto a ajudou: em quatro encontros pôde colocar para fora todos seus sentimentos e estar pronta para lidar com os momentos de depressão que aparecem para Luiz sem avisar e o fazem pensar em tudo o que não fez enquanto estava plenamente saudável. “Eu tenho que cuidar de um doente e para isso eu tenho que estar bem”, afirma, contando que criou-se um grupo de amizade por conta da iniciativa. A mudança possibilitou que mais tempo durante o dia o casal ocupasse a cabeça com o lado bom da vida: ver TV, jogar xadrez, fazer palavras cruzadas, discutir sobre a dupla Gre-Nal - ele colorado, ela gremista. “A importância dela é muita. Sem ela eu não estaria mais aqui. Ela está perdendo a vida. Poderia estar longe”, comenta ele. “É uma vida que a gente construiu. O barco é o mesmo para os dois”, Kátia responde.
Paliativos
Neste sábado se realiza o Dia Mundial de Cuidados Paliativos - abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares. Em Pelotas está programado evento na antiga Laneira, na avenida Duque de Caxias. No local, onde será instalado o Hospital Paliativo (Hospice), a Liga Acadêmica de Cuidados Paliativos estará conscientizando e tirando dúvidas da população sobre o tema e sensibilizando acerca da doação de recursos para um centro especializado.
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